Nos primeiros passos da Invernada Artística do CTG Sepé Tiaraju, o Dr. Walter Warth com a capacidade que lhe é peculiar, conseguiu que João Carlos D’Avila PAIXÃO CORTES nos fizesse uma visita, para palestras e ensinamentos nas tradições gaúchas, bem como no aprendizado das danças. Paixão Côrtes, todos o sabem, é um personagem decisivo da cultura gaúcha e do movimento tradicionalista no Rio Grande do Sul, do qual foi um dos formuladores. Em 1948, organizou e fundou o 35 CTG juntamente com Antônio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira. O Monumento "Laçador" foi criado por Antonio Caringi, inaugurado em 20/09/58, no Largo do Bombeiro, em Porto Alegre - RS, tendo por modelo Paixão Côrtes. Este monumento possui 4,45 metros, e está assentado num pedestal de granito totalizando 6,55 m., e pesa 3,8 toneladas.
Mas, voltando ao assunto principal e o motivo de sua visita, seria ensinar-nos as danças gauchas que foram objeto de seu livro-manual.
Fez-se presente com grande expectativa, curiosidade e sucesso pleno no programa GRANDE RODEIO SEPÉ TIARAJU, criado e apresentado por Ivo Stein.
Ministrou aulas sobre: Chimarrita, Anu, Tatu, Balaio, Pezinho, Xote, Tiranas, Meia Canha, Rancheiras, Quadrihas, Pau de Fita e outras. As músicas, danças e outras tradições preservadas nos CTGs eram praticamente desconhecidas quando o movimento se iniciou. A recuperação delas foi trabalho de pouca gente e, nele, Paixão Cortes teve um destaque especial.
Conciliando seu trabalho de agrônomo com o de pesquisador de folclore, ele saiu pelo interior do Rio Grande do Sul atrás de pessoas idosas que lhe revelassem o modo antigo da vida dos gaúchos, contos, décimas, historinhas, cantos e o que mais fosse para recolher elementos folclóricos. Aprendemos que existe uma maneira tradicional (tipo intermédio entre os costumes primitivos e os atuais) pela qual o gaúcho "tira uma moça" para dançar. Ele leva consigo um pequeno lenço (tamanho "de bolso"), preso entre a camisa e o cinto. Chegando à frente da moça com quem deseja dançar, ele inclina levemente a cabeça, num ligeiro curvar, ao mesmo tempo, que lhe alcança a mão direita, com a qual segura o citado lenço. A moça, aceitando o convite, alcança sua mão esquerda ao rapaz. Dessa forma, os dois se tomam pelas mãos, mas separados pelo lenço, que impede que a mão do rapaz "suje" a mão de sua companheira.
Assim feito, o rapaz conduz sua companheira até o salão, ou até o lugar que lhes caiba numa dança de conjunto, segundo a colocação do par-guia ou a ordem dada pelo "Marcante" (coordenador de movimentos).
Chegando ao lugar onde iniciarão a dança (posição inicial), eles executam um "giro-saudação". Chama-se giro-saudação ou, simplesmente, giro, o ato pelo qual a moça, tomada pela mão direita de seu companheiro, realiza uma volta inteira em torno do próprio corpo (girando sobre uma "meia-planta" ou executando passos), sob o braço esquerdo. No preciso momento em que a moça completa a volta, o par solta-se das mãos e efetua um respeitoso cumprimento: a mulher realiza uma pequena flexão de joelhos, e o homem inclina levemente a cabeça, ao mesmo tempo que torna a guardar, entre o cinto e a camisa, o pequeno lenço com o qual convidara sua companheira para a dança. (figura abaixo).
E o resultado não se fez esperar. Graças aos conhecimentos do Mestre e de nosso esforço próprio, formamos uma Invernada Artística com danças, cantos, declamações que encantavam quem os via e era motivo de orgulho e satisfação para seus integrantes e para os outros em outras invernadas.
Aprendemos com ele o significado dos sapateios, saracoteios, mesuras, sarandeios, inclinações e que o mais importante é um olhar um no outro com sinais de alegria, satisfação e fisionomia feliz e por fim o sorriso significativo entre conquistador e conquistada.
Ao ensejo de sua visita, promoveu-se um concurso de favos de bombachas, com grande aceitabilidade e que revelou diversas “modistas” que alcançariam prêmios de destaque em concursos de maior abrangência.
Proferiu palestra sobre o que seja e o que se esperava que fosse o movimento tradicionalista, então incipiente.
Numa forma de reconhecimento e agradecimento pelos momentos felizes e profiquos que nos proporcionou como é do costume do gaúcho, nada melhor do que um churrasco dos nosssos.
..... Talvez os avios do mate,
a cuia, a bomba, a cambona
a gaita ponto chorona
quando se encolhe ou se expande,
talvez, a figueira grande,
um flete estalando o casco
sejam teus rivais, churrasco,
no retratar o Rio Grande. (Paulo Zenni Araujo)